Prezada Carolina,
Acho que um dos maiores problemas que temos no país é que o coração brasileiro se apaixonou pelo futebol antes de estar fortemente apaixonado e orgulhoso do seu talento expresso no trabalho que realiza.
Falo isso com decepção, mas o amor que a maioria dos trabalhadores tem pelo futebol não se manifesta da mesma forma em suas atividades, aperfeiçoamento e superação profissional.
Acho que isto é um grande problema cultural que temos.
Pode ser influência da infame Lei de Gerson e do tão celebrado "jeitinho brasileiro", que trata coisas sérias de forma improvisada e banal em troca de vantagens imediatas.
Não estou generalizando, mas a grande maioria das pessoas trabalha por necessidade com pouca ou nenhuma dose de paixão.
Se tivessemos uma paixão nacional pelo trabalho tão forte como temos pelo futebol, não assistiríamos tantas medidas governamentais e planos econômicos nocivos ao desenvolvimento da atividade produtiva e redução das oportunidades de emprego como temos assistido.
Muitos brasileiros olham com desconfiança a sua relação com o patrão, tratando-o como um mal, não como um parceiro.
A maioria dos brasileiros sonha em se dar bem na vida, gozar de saúde, bem estar, sossego, tendo uma vida mansa.
O esteriótipo que temos de um brasileiro bem sucedido é daquele que conseguiu se "dar bem", está com a vida sossegada e não precisa mais trabalhar.
É difícil imaginar a visão de um brasileiro bem-sucedido, jovem e que ainda trabalha de 50 a 60 horas por semana, não é uma imagem muito poética e estimulante.
Não digo que o brasileiro trabalha pouco tempo. Mas a qualidade e o aproveitamento deste tempo certamente ainda é muito baixo.
Por não levar o trabalho muito a sério, o estudo e a educação se apresentam também como um grande problema nacional.
Nossa educação não irá melhorar se o desafio do trabalho não for maior e a busca pessoal de aprimoramento não for intensa.
Prezada Carolina, acho que sou obrigado a afirmar sem fazer médias de que "colhemos o que plantamos".
Só mudaremos a realidade se formos capazes de fazer uma pesada auto-crítica pois é muito fácil culpar todo mundo e não analisar de forma imparcial como a maioria encara verdadeiramente o assunto trabalho.
Toda grande mudança começa em nós mesmos